Milícia e tráfico se unem em esquema de extorsão a camelôs no Rio que envolveria guardas municipais, diz polícia

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Brasil

06 de outubro de 2020 às 17h17

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Um esquema de extorsões e a cobrança de taxas  para permitir o trabalho de camelôs nas ruas de Madureira, na Zona Norte do Rio, é alvo de uma operação da Polícia Civil nesta terça-feira. A exploração do negócio envolve uma espécie de parceria entre milicianos e traficantes, e conta ainda com a participação de policiais, servidores públicos, e até de três guardas municipais.

A Justiça expediu 43 mandados de busca e apreensão; não há mandados de prisão. Um dos mandados é contra o guarda municipal e servidor comissionado Júlio César Torres Vargas, lotado no gabinete da vereadora Vera Lins (Progressitas) na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio. O objetivo da busca e apreensão no gabinete da parlamentar é saber qual é a função de Vargas. Ele foi seguido por quatro meses por policiais e, neste período, nunca apareceu no Palácio Pedro Ernesto para trabalhar.

São cumpridos ainda mandados contra a agente de controle urbano Alyne de Araújo; o guarda municipal Valney Ferreira Dias e o policial militar Eduardo Rodrigues da Silva.

Há também mandados de busca e apreensão para a sede da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova.

A ação desta terça foi batizada de Operação Brutus, em referência ao chefe da quadrilha, que tem o apelido de Popeye.

Ele destacou ainda que nove mortes ocorreram nos últimos dois anos:

A investigação conseguiu identificar que o preço de propina variava de acordo com o tamanho do estabelecimento.

'Campo do poder'

Na manhã desta terça-feira os agentes estiveram no Campo do Falcon, em Madureira. Para a Polícia Civil o espaço que pertence ao governo do estado é utilizado para reunião de milicianos e bandidos para comemorar crimes e planejar empreitadas criminosas. No local foi encontrado material de campanha da vereadora Vera Lins.

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Ele informou, ainda, que a vereadora Vera Lins não está entre os investigados:

O grupo está sendo investigado por formação de quadrilha, organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.De acordo com investigações da DRCPIM, o bando é suspeito de movimentar semanalmente de R$ 60 mil a R$ 90 mil com cobranças irregulares, como o aluguel de barracas padronizadas. O grupo também estaria por trás do assassinado de Daniel Rodrigues da Paz, o DN.

Principal testemunha da polícia, Daniel foi morto a tiros, no dia 1º de abril de 2020. O crime ocorreu na Zona Norte do Rio, 13 dias após DN prestar seu último depoimento na DRCPIM,quando ajudou a identificar nomes dos integrantes da quadrilha. O assassinato foi flagrado por câmeras de segurança. As imagens mostram, inicialmente, uma homem saindo do banco do carona de um carro logo após assassinar DN, que estava dirigindo o veículo.

Pouco depois, uma moto com dois  homens se aproxima, e um deles ainda dispara mais tiros contra Daniel. Vinte e três pessoas suspeitas de integrar o grupo tiveram as prisões temporárias solicitadas à Justiça, mas o pedido acabou sendo negado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Entre os que chegaram a ter a prisão pedida está Genivaldo Pereira das Neves, o Popeye. Ex-ocupante de um cargo na Secretaria estadual de Transportes, de onde foi exonerado em outubro de 2019, ele foi apontado pela testemunha assassinada como suposto chefe do esquema de extorsão aos ambulantes.

Testemunha detalhou cobranças

Antes de morrer, Daniel detalhou ainda que as cobranças eram feitas em forma do aluguel de barracas. Para ter permissão de trabalhar nas ruas de Madureira, era necessário pagar à milícia entre R$ 150 a R$ 200, por semana, para alugar barracas com armação dourada e com lonas azuis e brancas. O material, segundo as investigações, é guardado diariamente em um depósito  por milicianos.

Quem não concordasse com o valor, acabava sendo alvo de fiscalização de três guardas municipais e de uma agente de controle urbano. A abordagem era feita, segundo relatório dos pedidos de prisão,  justamente a quem ussasse  barracas diferentes das permitidas pelo grupo paramilitar. O esquema contaria ainda com a anuência de Edmílson Gomes Menezes, o Macaquinho, um dos chefes da milícia que atua na Praça Seca, Madureira e Vila Valqueire, e também com a concordância do traficante Walace de Brito Trindade, o Lacoste, que controla o comércio de drogas no Complexo da Serrinha.

De acordo com as investigações da DRCPIM, ele teria autorizado a cobrança de milicianos nas ruas de Madureira. Em troca, teria recebido carta branca da milícia para explorar a realização de bailes em áreas onde milícia e o tráfico atuam em aliança.

Genivaldo Pereira das Neves já respondeu por porte ilegal de armas. Ele foi ouvido na DRCPIM. Disse ser presidente de uma associação de ambulantes e negou ser miliciano ou ter ligações com a milícia.

 

Reprodução: O Globo

da Redação do LD

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